Pular para o conteúdo principal

4 - Alivio Imediato

 O ano de 1989 começou diferente para o Brasil. Seria a primeira vez que teríamos eleições diretas para presidente da República. Aquilo mexeu demais com todo mundo, a ansiedade era grande para tal feito. Em uma campanha com uns 20 candidatos quem ganhou foi o desconhecido Fernando Collor de Mello. Ele se intitulava caçador de marajás, pessoas que ganhavam dinheiro sem trabalhar, e iria acabar com isso.

Eu, que já ouvia a rádio Transamérica desde o ano anterior comecei a perceber uma grande mudança na programação da mesma, tendo muito mais rock entre as músicas pop que eram massificadas em nossas cabeças. Assim, mesmo Madonna vindo com uma enxurrada de sucessos do recém lançado “Like a prayer” e os monstros do Rolling Stones lançando “Steel Wheels”, o rock se fez presente com The Cult, Tears for Fears, David Bowie que vinha fazer show no Palmeiras, Ramones com seu maior sucesso “Pet Cemitery”, que eu não gosto e o rádio sendo invadido por vários sons nacionais, como “Burguesia” de Cazuza, Titãs com o esquisito mas maravilhosos “Õ Blésq Blom” e a Legião Urbana com multiplatinado “As quatro estações” que vendeu demais. Era difícil desgrudar do rádio.

No prédio tivemos uma grande surpresa que foi a mudança do Kaká para lá. Eles gostava de muita música e passamos a conversar demais sobre isso. Logo que descobriu que eu gostava de Engenheiros me emprestou o “Alívio Imediato” que ainda seria lançado comercialmente mas ele o tinha pois trabalhava em um banco e tinha contato com um cara de uma gravadora. Quando a música título chegou às rádios eu já a cantava sem errar uma vírgula. “Alívio Imediato” é uma música que começa na calmaria e aumenta seu ritmo conforme vai chegando ao fim. Seus versos eram tapas pra mim que sabia que trocaria de escola e iria viajar para o sul do país com a escola, quem sabe encontrar algo da banda em Porto Alegre… “que a chuva traga alívio imediato” virou uma discussão na aula de Geografia quando comecei a falar que chover no nordeste brasileiro poderia virar um alívio para todos que ali moravam e sofriam com a seca. Eu me senti muito feliz em, pela primeira vez, saber de uma música antes da rádio. Sim, isso era possível antes mesmo quando se ouvia o disco todo, mas ali eu tinha o disco antes deles terem a música.

O disco trazia duas inéditas, a música título e “Nau a deriva” que tanto o Kaká quanto o Alemão falavam “nau a direita”. É uma música com bateria eletrônica e me deixou ressabiado com medo da banda mudar seu estilo. Mas suas guitarras sempre presentes faziam meu medo ir por algo abaixo. E também era uma grande música, cheia de versos para nos fazer pensar e ali me toquei que Humberto era um poeta que musicava seus textos.

Todo o resto do disco era ao vivo, gravado no Rio de Janeiro, e com muita energia. “Toda forma de Poder”, “Ouça o que eu digo”, “Terra de gigantes” e “Somos quem podemos ser” eram cantadas por todos presentes nesta apresentação. Era incrível saber que tanta gente gostava dos caras como eu. Passei a me sentir parte do meio. Em “Longe demais das capitais” a música era numa levada que me fazia sentir no meio da galera. Um senhor disco.

Música favorita desse disco: “Alívio Imediato”. Desconsiderei toda a energia de “Toda forma de poder” para escolher entre uma das duas inéditas e a escolho por ser uma baita música que até hoje gosto demais e, mesmo com versões diferentes feitas nos shows, é uma canção com frases marcantes.


Comentários