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3 - Ouça o que eu digo: Não ouça Ninguém

 Discos lançados no final de ano, para que todos tenham o dinheiro do 13º para os comprar sempre foi uma tendência aqui no Brasil. Então o disco de um ano acaba estourando no outro ano, muitos têm suas músicas trabalhadas para terem exposição na mídia entre o Natal e o Carnaval. O verão sempre foi um período de novas músicas aparecerem. Claro que muitos singles foram lançados e, dependendo da reação do público, o disco saia antes do convencional.

Eu, que sempre ouvi rádio, passei a procurar por discos no Carrefour sem ser lançamento, o que ainda era muito escasso. Eles passaram a trabalhar com novidades praticamente em 1990, não que antes não vendiam, é que os maiores lotes iam para as lojas de Shopping Center. Certa vez, no Carrefour, dei de cara com “Bora Bora” do Paralamas do Sucesso. As rádios já tocavam “O Beco” mas não sabia que o disco fora lançado. O comprei e virou a sensação com a galera da sala e do prédio. Eu vivia falando daquelas músicas para eles. Logo começou a tocar a balada “Quase um segundo”. Estouro de vendas. Cazuza estourava com “Faz parte do meu show”, U2 com “I Still Haven't Found What I'm Looking” e Bon Jovi com “I´ll be there for you” ou seja, as rádios estavam tocando músicas mais calmas, mesmo que todos esses tinham músicas mais agitadas que essas citadas.

Logo apareceu nas rádios “Somos quem podemos ser”, música calma do Engenheiros que agradou ao público. Eu, num primeiro momento, gostei da música. O fato de “somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter” me incentivava a ser uma pessoa diferente daquele Ronaldo tímido que até ali, com 13 anos, era o que tomava conta do meu ser. Eu jogava vôlei pela escola e passei a dar treino a noite, isso fazia eu me sentir melhor. E muitas vezes eu falava para quem eu dava treino que podíamos ser mais se nos dedicássemos afinal “somos quem podemos ser”. Com o passar do tempo passei a desgostar dessa música e hoje é uma das que se não tocar eu não sentirei falta.

Não consegui logo o LP, só o conseguindo como os outros dois, mas quando o tive em mãos também fiquei surpreso pelo vermelho da capa. Algumas rádios começaram a tocar “Tribos e tribunais” e adorei a música. Letra e música casavam com tudo e “todo dia a gente inventa uma alegria” me tocou pois era julho, fomos ao Playcenter e aquilo era muito divertido, a gente brincava demais. Saindo da Montanha Russa tocou a música e fiquei cantando sem parar. Realmente a gente podia inventar nossa alegria.

Assim que estava com o LP em mãos “Nunca se sabe”, “A verdade a ver navios”, “Quem diria?”, “Variações de um mesmo tempo”, “Desde quando”, “Pra entender” e a faixa título me alegraram demais. Pensei “uau, primeiro disco deles que gosto de quase tudo”. “Nunca se sabe” começou a tocar nas rádios e eu adorava falar que eu mesmo traçava minhas rotas, que tentava eu mesmo me orientar como Humberto cantava nessa canção. Anos depois, em 2010 para ser mais exato, eu usava a frase “Não viro vampiro, eu prefiro sangrar” no meu status do MSN. Sofri um acidente de ônibus e logo comecei a sangrar e me veio essa frase na mente, eu a tinha escrito naquela manhã e no fim da tarde sofri o acidente o que me disseram “você chamou pelo sangramento”. Não acreditei naquilo e segui em frente com o nariz quebrado.

“Variações de um mesmo tempo” tinha Augusto Licks cantando a segunda parte e aquilo me intrigou. Eu sempre fui de ouvir o disco do começo ao fim, depois o ouvia novamente e na terceira audição que escolhia faixas isoladas. Mas com essa música foi diferente, ela fecha o lado B e assim que terminou a coloquei novamente. Comecei a pensar em “Dylan e seus dilemas” bem como nos meus dilemas com as meninas do prédio que, de tanto eu me aproximar como amigo, as perdia como futuras namoradas. E a parte do Augustinho cantando era muito linda, juntando com um solo de guitarra fantástico o que fazia a música ser diferente de todas as outras. Eu gostei demais daquilo.

As outras que gostei já tinham seu ritmo mais acelerado, e isso foi me moldando a gostar cada mais gostar de músicas mais agitadas ou pesadas. Não que não gostasse das músicas lentas, mas preferi as agitadas. Passei a levar a caixa de som para o banheiro quando tomava banho e muitas vezes esse era o disco que eu levava.

Uma música que acabei deixando passar e só fui dar seu devido valor depois foi “A cidade em chamas”. A banda a tocou em uma apresentação na rádio Transamérica e eu achei o máximo. A procurei pra ouvir e realmente é uma baita música, premiando pra mim aquele disco que tinha tudo para ser perfeito em todas suas músicas. Praticamente todos os versos dessa música eu passei a usar em vários momentos na escola, principalmente quando parecia que iria tirar uma nota baixa na prova e dizia “as chances estão contra nós e nós estamos a fim de sobreviver”.

Com esse disco passei a dizer que Engenheiros do Hawaii se tornou, ao lado do Ultraje a Rigor, minha banda de cabeceira.

Música favorita desse disco: Difícil escolher pois, como citei acima, gostei de quase todas, mas escolho “A cidade em chamas” pois me fez pensar mais em tudo, eu estava tentando me tornar uma pessoa melhor e essa música acabou ajudando com seus versos pensantes.



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