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2 - A Revolta dos Dândis

 O ano de 1987 começou molhado para nós em casa. Uma inundação em nossa rua fez com que muita água entrasse em nossa casa. Não perdemos nada, mas tapetes ficaram muito tempo no varal para sair o mau cheiro. Por conta disso e pelas enormes dores na coluna da minha mãe o meu pai decidiu que era hora de mudarmos de casa. Deixaríamos de ficar “Longe demais das capitais” e iríamos para algum lugar melhor. Bem devagar meu pai foi nos “incluindo” no mundo. Demoramos a ter TV colorida, vitrola, vídeo cassete, vídeo game, bicicleta, entre outras coisas que tomavam conta do mundo.

Depois de cerca de 7 meses buscando por um imóvel, e de ver tanta coisa boa e ruim, fomos morar muito perto da escola que estudávamos. Estava entusiasmado com a mudança sem me tocar que deixaria para trás um mundo de coisas como amigos, lugares, pessoas e nossa enorme casa. Mudamos no dia 10 de outubro para um prédio. Eu e meu irmão conhecíamos algumas pessoas que estudavam ou em nossas salas ou na mesma escola. Mas para frustração nossa, ao bater bola no playground, fomos avisado que aquilo ali era proibido. Subimos chorando pedindo para voltar para casa. Falaram que sim, mas nunca voltamos, fomos obrigados a nos adaptar, sendo que eu inventei várias formas de enganar o síndico sempre. 

Com muito mais gente morando no mesmo lugar as novidades musicais chegavam mais rápido. Éramos os únicos ali que tinha “Bad” do Michael Jackson. Biro e Alemão falavam de U2, INXS, Midnigth Oil, Legião Urbana e Titãs. Naquela época era muito fácil lançar primeiro a música e depois o disco. Então ainda no Jardim Andaraí a gente ouvia “Angra dos Reis” ou “Que país é esse?” da Legião, “Comida” e “Lugar Nenhum” do Titãs, “Father Figure” do George Michael ou a trilha do filme “Dirty Dancing”. Eu também vim trazendo o disco “Sexo” do Ultraje a Rigor todo decorado em minha cabeça. Até um dia o Alemão falar “Gosta de “Infinita Highway”?” o qual falei que não sabia ao certo qual era e ele me emprestou uma fita K7 que tinha não só essa mas também “Terra de gigantes”. Ao ouvir falei sozinho “É Engenheiros”. Logo copiei as duas músicas e queria saber de quem ele copiou as músicas. Ele disse que fora sua prima que morava em Curitiba que trouxe para ele.

Descobri que havia um novo disco da banda e fui atrás. Na loja “Shout” do Carrefour da Vila Maria, especializada em músicas, era somente por encomenda esse disco, disseram que pegaram alguns e levou tempo a vender. Lembrei de ter escutado “Infinita Highway” pouco antes de mudarmos mas não associei ao nome quando o Alemão me perguntou. E “Terra de Gigantes” tinha a frase fantástica “Hey mãe, eu tenho uma guitarra elétrica, durante muito tempo foi o que eu queria ter” e a falei muito, pois sempre quis tocar guitarra. Só a comprei em 1991 e não aprendi tocar. 

A música “Infinita Highway” era uma grata viagem que passei a ouvir e viajar por ela. Não a cantava com a galera, mas todos diziam gostar da música que passou a tocar diariamente nas rádios. Não nego que, algumas vezes ao viajar, a colocava assim que entrava na estrada. Música calma e que se tornou uma das mais tocadas de toda a história da banda.

Já “Terra de Gigantes” me enganou como aos diretores da gravadora. Ela é uma música acústica, a bateria, quando aparece, é só para fazer uma marcação. Dizem que a hora que entrou a bateria o pessoal da gravadora acho que a música pegaria e nem ouviram o resto. Eu esperava que ela ficasse mais agitada, mas não ficou. Claro que “a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes” virou bordão usado até hoje e sempre imaginei uma galera tocando no comercial da Coca-Cola, mas depois associei a banda Jota Quest, como muitos, por participarem da propaganda da Fanta nos anos 2000.

Também só consegui ter o LP na metade final dos anos 1990 e minhas impressões foram “atrasadas”. Quando peguei o disco já estranhei todo aquele amarelão da capa, algo chamativo. Ouvi e tentei entender o que seria esse tal Dândis mas percebi que a tal revolta era algo “pessoal” mas assimilei para mim, tal como em “Longe das capitais” que “eu me sinto um estrangeiro, passageiro de algum trem que não passa por aqui que não passa de ilusão” também teria muito a ver comigo, por sempre me sentir ou me fazer excluído. A música era numa levada agitada que me fez a cantarolar inúmeras vezes no prédio, deixando todos com a música na cabeça.

Confesso que, assim como o disco anterior, o ouvi mas nada me tocava tanto quanto essas três citadas e também “Quem tem pressa não se interessa” que passei a usar tal expressão para todos que viviam a me apressar e a uso até hoje.

Somente em 1990 “Refrão de bolero” estourou após ser incluída no shows de lançamento do “O Papa é Pop”. Eu gostei da música e a cantava pra minha mãe, Rosana, brincando com ela, que passou a gostar também da mesma. Seu ritmo arrastado me deixava apreensivo e cheguei a cantar, nos anos 1990, para uma amiga.

E “Filmes de guerra, canções de amor” também cheguei a gostar, não só pelo título que sempre me remeteu aos filmes e às novelas que sempre tem temas específicos para alguma cena. Esse som era ritmado e acabava com um “sambinha” nada esperado para aquela banda gaúcha, mas que ficou muito bacana.

Música favorita desse disco: “Infinita Highway” sem dúvida. Com ela eu viajava deitado, sentado e também passei a fazer com que o pessoal na sala de aula a cantasse ao invés de “Faroeste Caboclo” da Legião Urbana.



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